O Vice-Presidente da Comissão Nacional de Eleições (CNE), Fernando Mazanga, levantou preocupações significativas ao afirmar que "há uma mão estranha na Comissão", sugerindo que influências externas estão a comprometer a autonomia e a transparência dos membros da CNE. Esta declaração ressalta a gravidade da situação atual, onde decisões deliberativas da Comissão estariam a ser manipuladas por fatores que não se coadunam com os princípios democráticos. Segundo o vogal associado à RENAMO, a incapacidade da Comissão em seguir suas deliberações internas em favor de decisões tomadas à margem dos debates oficiais é alarmante e pode resultar em falhas graves na administração do processo eleitoral. Ele alerta que essa situação representa um risco significativo para a democracia no país, embora reconheça a dificuldade de apresentar provas concretas para corroborar suas suspeitas, afirmando: “Eu posso ter minhas suspeitas, mas se eu não tenho provas, não posso apresentar nada. Mas a verdade é esta.”
Mazanga, que possui um histórico extenso e respeitável dentro da Comissão, expressou que nunca tinha presenciado um cenário tão grave de desassociação entre os ideais da CNE e a realidade das operações eleitorais. A sua comparação da atual gestão a uma "Inquisição" é ilustrativa, destacando a ausência de diálogo e debate nas decisões que são tomadas. O recente processo eleitoral, mais especificamente, foi descrito por ele como o mais irregular de todos os tempos, citando, entre outras anomalias, a questão de boletins de voto pré-preenchidos, bem como discrepâncias preocupantes no número de eleitores contabilizados. Esses fatores levantam sérias dúvidas sobre a integridade dos resultados que indicaram Daniel Chapo como vencedor com 70,69% dos votos.
Além disso, Mazanga trouxe à luz um aspecto crítico do processo eleitoral: a elevada quantidade de votos em branco e nulos. Para ele, tal situação não é meramente um reflexo do desinteresse dos eleitores, mas sim uma indicação de que o sistema eleitoral pode estar viciado. Ele sugere que as situações de abstenção são consequências de práticas questionáveis, como a coleta indevida de cartões de eleitores por forças políticas, o que compromete ainda mais a legitimidade do processo. A descoberta de boletins já marcados em determinados locais parece indicar a existência de uma manipulação sistemática, o que certos grupos políticos estariam a utilizar para favorecer seus próprios interesses.
Mazanga também elucidou as ineficiências que cercam a distribuição dos boletins de voto. Apesar de a CNE supervisionar a produção na África do Sul, a transferência e descarga dos materiais nas regiões provinciais e distritais enfrentam problemas de controle. Ele enfatizou a gravidade dessas falhas, mencionando casos explícitos de arrombamentos em armazéns, onde boletins pré-votados foram encontrados. Esse estado de coisas levanta questões sérias sobre a segurança e o gerenciamento dos materiais eleitorais ao longo das províncias e distritos, indicando uma possível manipulação ao longo do processo.
Em reflexão, Mazanga designa a origem dos problemas como começando nas províncias e se propagando pelos Secretariados Técnicos de Administração Eleitoral (STAE) em níveis provinciais e distritais. Essa hierarquia de falhas afeta, portanto, toda a estrutura que deveria garantir um processo eleitoral livre e justo. É fundamental entender que essas questões não se limitam a incidentes isolados, mas, em vez disso, mostram um padrão que resulta em uma gestão eleitoral deficiente.
Adicionalmente, deve-se notar que Fernando Mazanga é um dos poucos vogais que votaram contra os resultados proclamados pela CNE, que conferem à Frelimo e ao seu candidato presidencial Daniel Chapo uma vitória acachapante. Sua postura crítica reflete uma resistência a práticas que ele considera inaceitáveis, tendo inclusive denunciado, dias antes da votação, a intenção de utilizar urnas que contrariam as disposições da nova legislação eleitoral. Essa atitude destoa daquelas que se espera de instituições que devem zelar pela justiça e pela equidade no processo eleitoral.
Assim sendo, a declaração de Mazanga serve como um chamado à ação para que as autoridades competentes revisem a administração e a supervisão do processo eleitoral, garantindo que quaisquer irregularidades sejam tratadas com a seriedade que merecem. A luta pela transparência e pela integridade nos processos democráticos deve ser prioridade, não apenas para preservar a legitimidade das eleições, mas também para salvaguardar a própria saúde da democracia no país.